Por: Alex Sandro Perez Santos – Teólogo
João 9.1-41 é um texto cheio de nuances que nos traz muitas lições sobre como aplicar os ensinamentos cristãos na vida cotidiana. Ao desdobrar o milagre da cura do cego de nascença, nos deparamos com questões de fé, política e cultura que se entrelaçam na narrativa bíblica e têm relevância contínua em nossa sociedade moderna.
Começamos com Jesus e seus discípulos cruzando com um homem que era cego de nascença. Os discípulos perguntam a Jesus: “Rabi, quem pecou, este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?” A resposta de Jesus desafia a visão comum naquela época, que atribuía a deficiência a algum pecado cometido. Jesus rejeita essa ideia e, em vez disso, usa a situação como uma oportunidade para manifestar a glória de Deus. Aqui, vemos o princípio fundamental do amor cristão: a aceitação e a compreensão do próximo em sua totalidade, sem estigmatização ou julgamento precipitado.
Em seguida, Jesus cura o homem, dando-lhe a visão. Esta é uma expressão poderosa do amor divino, que age não apenas para consolar, mas para transformar. Nesse milagre, somos convidados a refletir sobre as situações em nossa vida onde precisamos de clareza, onde precisamos da cura de Deus para ver além das limitações do nosso entendimento humano.
A reação dos líderes religiosos ao milagre levanta questões de política e cultura. Eles se recusam a aceitar o milagre, pois foi realizado no sábado, contrariando as suas interpretações das leis do Shabbat. O diálogo subsequente ressalta a tensão entre o legalismo estrito e a prática do amor e da misericórdia. Essa reflexão tem implicações profundas para nós, pois sugere que nossas leis e tradições devem servir ao propósito maior de promover o amor e o respeito, e não serem fins em si mesmas.
O cego curado, confrontado com esses líderes religiosos, defende Jesus com coragem e convicção. Ele se recusa a renunciar à sua experiência, apesar das pressões e ameaças. Aqui encontramos uma lição sobre a coragem da fé, que nos desafia a testemunhar a verdade, mesmo frente a adversidades. Este é um chamado para todos nós abraçarmos nossa própria fé e compartilhá-la com os outros de maneira respeitosa, apesar das diferenças que possamos ter.
Finalmente, ao contrário dos líderes religiosos que se recusam a ver a verdade, o homem curado encontra fé em Jesus. A história termina com Jesus dizendo: “Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam e os que veem se tornem cegos”. Esta declaração pungente lembra-nos que a verdadeira visão vem da fé, não apenas do intelecto.
Em resumo, o texto de João 9.1-41 nos ensina sobre o amor cristão, o respeito pela experiência do próximo, a busca contínua por entendimento e crescimento, e a importância do diálogo aberto e honesto. O milagre de Jesus não foi apenas dar visão física ao cego, mas também abrir os olhos da sociedade para os valores que devem ser fundamentais em nossa vida: amor, respeito e comunhão.
Assim, à medida que avançamos em nossa jornada de fé, que possamos aplicar essas lições em nosso dia a dia, nutrindo a visão de uma comunidade que se preocupa profundamente com a dignidade e o valor de cada pessoa, onde as vozes sejam ouvidas e respeitadas, e onde a busca pela verdade seja guiada pelo amor e pela graça de Deus.