Por: Alex Sandro Perez Santos- Teólogo
João 7.1-53 nos convida a refletir sobre a complexidade da existência humana à luz do evangelho. Em meio a uma sociedade que tem seu tempo, suas tradições e seus conflitos políticos, vemos Jesus, o mensageiro do amor divino, confrontando as expectativas e desafiando os sistemas de poder.
Começamos com a hesitação de Jesus em ir para a Judeia, pois os judeus buscavam tirar a sua vida (João 7.1). Aqui, podemos ver uma reflexão sobre a realidade de muitos que buscam fazer o bem em seus contextos, enfrentando resistência, incompreensão e até perseguição. Em nossos dias, vemos isto refletido em ativistas, defensores dos direitos humanos, e até mesmo em pessoas comuns que, por simplesmente amarem e respeitarem o próximo, encontram-se na mira do ódio e da violência.
Jesus, no entanto, não se deixa intimidar. Ele segue sua missão, fundamentada no amor incondicional, na busca pela verdade e na defesa do próximo. Jesus diz aos seus irmãos que seu tempo ainda não havia chegado, mas que o tempo deles era sempre oportuno (João 7.6). É uma lição sobre a importância do discernimento e da paciência, valores muitas vezes esquecidos em nossa cultura acelerada e imediatista.
Na Festa dos Tabernáculos, Jesus se revela como a fonte da água viva (João 7.37-38), desafiando o sistema religioso e político de sua época. O ensinamento de Jesus sobre ser a fonte da água viva pode ser aplicado à nossa realidade ao entendermos que a verdadeira satisfação, a paz e a justiça, só podem ser encontradas em Deus, e não nos sistemas falhos e muitas vezes opressivos criados pelos seres humanos.
Este texto também apresenta o debate entre os líderes religiosos sobre a identidade de Jesus (João 7.40-53). Havia divisão e incompreensão, mesmo entre aqueles que deveriam ser os primeiros a reconhecê-lo. Isso nos fala sobre como, mesmo nos espaços onde a fé deveria ser o centro, a polarização e a falta de comunhão podem criar barreiras para o entendimento da verdade.
Em tempos de polarização política e debates acirrados sobre questões sociais, esse trecho nos lembra da importância do diálogo respeitoso, da escuta atenta e da busca conjunta pela verdade. A fé cristã, fundamentada no amor, deve ser um espaço de unidade na diversidade, onde o respeito pelo outro e o compromisso com a justiça prevaleçam sobre as diferenças.
Por fim, a narrativa de João 7 nos ensina que o amor, o respeito e a comunhão não são meros conceitos abstratos, mas valores concretos que devem nortear nossas atitudes e decisões. Seja no enfrentamento da perseguição, no discernimento sobre o momento certo de agir, na coragem de desafiar sistemas opressivos, ou na disposição para dialogar com aqueles que pensam diferente, os ensinamentos de Jesus em João 7 nos inspiram a viver nossa fé de maneira prática e relevante, transformando nosso dia a dia e a sociedade ao nosso redor.
Que essa reflexão nos ajude a caminhar com coragem, sabedoria e amor, vivendo a fé cristã de forma autêntica e transformadora.
