Por: Alex Sandro Perez Santos – Teólogo
Em um mundo marcado por crescentes desafios ambientais, como a mudança climática, a perda de biodiversidade e a poluição, a comunidade cristã é chamada a refletir profundamente sobre seu papel na criação. Esta reflexão não é nova; encontra suas raízes no próprio texto bíblico, onde a relação entre Deus, a humanidade e a criação é tema central. No entanto, o contexto contemporâneo nos desafia a olhar para estas escrituras com novos olhos, buscando entender como podemos, como seguidores de Cristo, viver de maneira que honre nosso compromisso com a Terra que nos foi confiada.
A Criação: Um Dom e uma Responsabilidade
No livro de Gênesis, é narrada a criação do mundo, culminando na criação do ser humano à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:26-27). Esta passagem tem sido interpretada de várias maneiras ao longo da história, mas uma leitura atenta nos convida a reconhecer a dignidade e a responsabilidade que acompanham essa imagem divina. Somos chamados não apenas a “dominar” a terra, mas a cuidar dela, a cultivá-la e guardá-la (Gênesis 2:15). Esta é a primeira indicação de nossa vocação ecológica, um chamado para sermos guardiões da criação, trabalhando em harmonia com ela, em vez de explorá-la sem consideração pelas consequências.
Jesus Cristo e a Criação
O Novo Testamento continua essa narrativa, apresentando Jesus Cristo não apenas como redentor da humanidade, mas de toda a criação. Em Colossenses 1:16-17, Paulo fala de todas as coisas sendo criadas por meio de Cristo e para Cristo, sugerindo uma profunda interconexão entre Cristo e o mundo natural. A vida e o ministério de Jesus também refletem um profundo respeito pela criação, seja nas parábolas que usam imagens da natureza, seja no seu cuidado para com os animais e as plantas. Assim, seguir Cristo implica em reconhecer a sacralidade da vida em todas as suas formas e agir de maneira a preservar e respeitar essa vida.
A Igreja e o Desafio Ecológico Contemporâneo
No cenário contemporâneo, enfrentamos desafios ecológicos sem precedentes, que exigem uma resposta firme e fundamentada na fé. A igreja, como comunidade de crentes, tem a oportunidade de liderar pelo exemplo, promovendo práticas sustentáveis, apoiando políticas ambientais responsáveis e educando seus membros sobre a importância do cuidado com a criação. Isso pode se manifestar de diversas formas, desde a implementação de práticas ecológicas em suas próprias operações até o apoio a iniciativas locais e globais de conservação.
Aplicando os Valores de Amor, Respeito e Comunhão
O amor pela criação, o respeito por sua integridade e a busca pela comunhão com toda a vida são valores que devem orientar nossa resposta ao desafio ecológico. Amar a criação como expressão do amor de Deus implica em tomar ações concretas para protegê-la. Respeitar a criação significa reconhecer seu valor intrínseco, independentemente de sua utilidade para nós. E buscar a comunhão com a criação é entender que somos parte de um todo interconectado, cuja saúde e bem-estar dependem da saúde e bem-estar de cada uma de suas partes.
Conclusão
Cuidar da criação de Deus é uma expressão fundamental de nossa fé cristã. Ao nos engajarmos nesta tarefa, não estamos apenas respondendo a um mandato bíblico, mas também contribuindo para um mundo mais justo, sustentável e harmonioso. Neste processo, somos chamados a refletir sobre nossas próprias práticas, buscando maneiras de viver que sejam coerentes com os ensinamentos de Cristo sobre amor, respeito e comunhão. À medida que avançamos, que possamos fazer isso com a esperança e a convicção de que, trabalhando juntos, podemos fazer a diferença, honrando a Deus ao cuidar de sua magnífica criação.