Alex Sandro Perez Santos – Teólogo
O relato de 1ª Samuel 3.1-21 é uma história fascinante de discernimento, vocação e profecia que ressoa profundamente no mundo contemporâneo. Através da experiência de Samuel, jovem aprendiz no templo, somos desafiados a pensar sobre como ouvir e responder à voz de Deus no meio do barulho de nossa vida cotidiana.
Naqueles tempos, a palavra do Senhor era rara e as visões não eram frequentes. No entanto, no silêncio da noite, Deus chama Samuel. Inicialmente, Samuel confunde a voz de Deus com a de Eli, seu mestre. Eli, no entanto, reconhece a voz do divino e instrui Samuel a responder: “Fala, Senhor, que o teu servo ouve”.
Este episódio nos convida à reflexão: Como podemos discernir a voz de Deus em meio à cacofonia da vida moderna? Nosso contexto contemporâneo é saturado com um fluxo constante de informações e opiniões, criando um desafio para aqueles que buscam a voz tranquila de Deus. Mas, assim como Samuel, somos chamados a ouvir, mesmo no silêncio, a voz suave de Deus que fala à nossa consciência e ao nosso coração.
Esta história também levanta questões significativas sobre vocação e propósito. Samuel é chamado por Deus para uma missão profética, para levar a palavra de Deus ao povo. Ele é um mensageiro entre o divino e o humano, um papel que carrega consigo tanto privilégio como responsabilidade.
Da mesma forma, cada um de nós é chamado a um propósito único. Pode não ser uma vocação profética como a de Samuel, mas todos temos a responsabilidade de encarnar e expressar o amor de Deus em nosso mundo através de nossas ações e palavras. Isso pode tomar a forma de amor e cuidado pelos outros, justiça social, integridade pessoal, ou contribuição para a vida comunitária.
A vida política também tem muito a aprender com essa passagem. A profecia de Samuel contra a casa de Eli é uma crítica ao abuso de poder, que Eli negligenciou em seus filhos. Esta história nos lembra da necessidade constante de responsabilidade, justiça e integridade na vida pública.
Os líderes devem ouvir atentamente a voz de Deus, garantindo que seu exercício de autoridade seja guiado por amor, respeito e comunhão, não pelo interesse próprio. Isto é crucial para a construção de uma sociedade que reflete o reino de Deus.
Em termos de cultura, a experiência de Samuel nos desafia a reconhecer a presença e a ação de Deus em todas as áreas da vida. A cultura, seja ela artística, literária, social ou popular, não está fora do alcance de Deus. Nós, como Samuel, somos chamados a ouvir a voz de Deus e a responder em nossos contextos culturais específicos.
No final, a história de Samuel nos desafia a estar abertos à voz de Deus em nossas vidas, a responder à nossa vocação única, a agir com justiça e integridade, e a reconhecer a presença de Deus em todas as áreas da vida. Estes são desafios que requerem coragem, discernimento e humildade.
Lembremo-nos das palavras de Samuel: “Fala, Senhor, que o teu servo ouve”. Que tenhamos a coragem de ouvir e a disposição de responder.