Por: Alex Sandro Perez Santos – Teólogo
O trecho bíblico de João 4.31-42, oferece uma oportunidade rica para refletir sobre o significado da fé na vida cotidiana e como isso pode nos influenciar na compreensão da política e da cultura. Este texto demonstra a revolução silenciosa que Jesus provocou ao abordar questões de diversidade cultural, status social e gênero, mas também nos convida a contemplar o poder transformador de um encontro autêntico com o divino.
O texto começa quando os discípulos de Jesus voltam da cidade e o exortam a comer. Jesus, entretanto, responde que tem um “alimento para comer que vocês não conhecem” (v.32). Esta metáfora revela que Jesus extrai sua sustentação não dos recursos materiais, mas de fazer a vontade de Deus. Aqui podemos encontrar uma primeira aplicação prática: em nosso dia a dia, é fácil sermos atraídos pelo materialismo e pelo imediatismo. No entanto, Jesus nos convida a buscar em nossa missão divina, em fazer a vontade de Deus, a verdadeira fonte de sustento e satisfação.
Quando Jesus explica aos discípulos que Ele é sustentado pela vontade de Deus, eles se confundem. A confusão deles reflete a maneira como, muitas vezes, interpretamos literalmente os ensinamentos e perdemos o significado espiritual subjacente. Este é um chamado à reflexão para nós como cristãos, lembrando-nos de olhar além das aparências, além do literal, buscando o significado mais profundo e espiritual nas palavras e ações de Jesus.
A narrativa prossegue quando a mulher samaritana volta à cidade e testemunha sobre Jesus. Nesse testemunho, ela provoca uma mudança na cidade, levando muitos a crerem em Jesus. Este é um exemplo poderoso de como a fé e a coragem de uma pessoa podem ter um impacto profundo e transformador na sociedade, o que ressalta a importância do papel de cada um de nós na difusão da mensagem do Evangelho, seja em nossa família, comunidade ou na esfera pública.
Em uma leitura mais ampla, esse texto também desafia as normas culturais e sociais da época. Jesus, um judeu, estava interagindo abertamente com uma mulher samaritana, que pertencia a um grupo culturalmente marginalizado. Esta é uma demonstração explícita do princípio do amor cristão, do respeito e da comunhão, transcendo as barreiras culturais, sociais e de gênero. Nos lembra que o Reino de Deus é inclusivo e acessível a todos, independentemente de sua origem, status ou identidade.
Essa passagem nos desafia a refletir sobre nossas ações cotidianas: Estamos vivendo a mensagem do Evangelho em nossas vidas? Estamos construindo pontes de amor e compreensão, ou estamos reforçando muros de divisão e preconceito?
Em termos de política, o ensinamento de Jesus se opõe a qualquer forma de opressão e exclusão. Ele nos chama a lutar por justiça, igualdade e dignidade para todos. Nos convida a reconhecer o valor inerente de cada pessoa e a trabalhar para criar uma sociedade que reflita o amor e a misericórdia de Deus.
Em suma, a história nos oferece um modelo inspirador de fé ativa, inclusão e transformação. Nos desafia a ver além das aparências, a buscar a verdadeira sustentação em nossa fé e na vontade de Deus, e a sermos agentes de transformação em nossa sociedade, respeitando a diversidade e promovendo a comunhão.