Por: Alex Sandro Perez Santos – Teólogo
No Evangelho de João, encontramos uma interação profundamente significativa entre Jesus e uma mulher samaritana. Esta passagem, especificamente João 4:19-30, proporciona uma reflexão rica sobre questões de fé, política e cultura, ressoando fortemente com as preocupações do nosso tempo.
Comecemos com o reconhecimento da mulher sobre Jesus ser um profeta (João 4:19). É aqui que testemunhamos a manifestação da fé inicial, uma percepção que ultrapassa o natural. Neste reconhecimento, também somos convidados a ver além do visível, a cultivar uma consciência espiritual em meio à nossa rotina diária. As tradições, os rituais e as práticas religiosas têm o seu valor, mas Jesus aponta para uma adoração que é mais profunda – um relacionamento autêntico com Deus, que é espírito (João 4:24).
Na conversa subsequente, quando Jesus menciona que a salvação vem dos judeus (João 4:22), ele está estabelecendo uma importante verdade teológica. No entanto, esta declaração, vista através de uma lente moderna, pode nos ajudar a refletir sobre as questões de identidade, exclusão e inclusão que são tão relevantes hoje em dia. Como Jesus, somos chamados a reconhecer e respeitar as diferenças culturais e religiosas, mantendo ao mesmo tempo a universalidade do amor e da graça divinos.
Através desta interação, Jesus também desafia as convenções sociais e culturais de seu tempo, derrubando barreiras étnicas e de gênero. A mulher samaritana foi, na verdade, a primeira pessoa a quem Jesus revelou abertamente sua identidade messiânica (João 4:26). Em uma época em que as divisões políticas e culturais parecem cada vez mais intransponíveis, essa passagem nos lembra que o amor de Deus transcende todas as fronteiras humanas.
O resultado dessa conversa é transformador. A mulher deixa seu cântaro (João 4:28), simbolizando a deixar para trás a vida antiga e assumir uma nova missão. Imediatamente, ela vai e testemunha para os outros na cidade sobre Jesus. Ela se torna uma embaixadora da boa notícia.
Hoje, também somos chamados a ser embaixadores, levando a mensagem de Cristo para o mundo. Esta mensagem é uma de amor, respeito e comunhão, valores que precisam ser defendidos em todas as áreas da vida – seja na política, na cultura ou em nossas interações pessoais.
A samaritana nos mostra que quando encontramos a verdadeira “água viva”, nosso primeiro impulso é compartilhá-la. Isso nos lembra que a fé não é uma jornada solitária, mas uma experiência comunitária, construída sobre a comunhão e o diálogo aberto e honesto.
Em resumo, João 4:19-30 oferece uma rica tapeçaria de lições aplicáveis à vida moderna. O reconhecimento da transcendência, a quebra de barreiras culturais e a importância da comunhão nos lembram que, embora a vida possa ser cheia de desafios e incertezas, a “água viva” oferecida por Cristo é uma fonte inesgotável de esperança, amor e transformação.